Temos uma discussão sobre aprendizagem enorme no Brasil, mas pouco da nossa educação leva em conta experimentos controlados que comparam como as pessoTemos uma discussão sobre aprendizagem enorme no Brasil, mas pouco da nossa educação leva em conta experimentos controlados que comparam como as pessoas aprendem. Só este passo já é o que faz livros sobre como aprendemos como o ótimo How We Learn: The Surprising Truth About When, Where, and Why It Happens e este livro do Dehaene acrescentarem muito.
Mas Dehaene vai além. Ele aproveita o avanço da inteligência artificial até aqui para comparar como modelos de aprendizagem de máquina funcionam e onde falham, e o que nós fazemos de diferente. Isso é muito bom para avançar a computação e nosso entendimento do cérebro também.
Um dos maiores saltos que a computação ainda precisa fazer e nosso cérebro dá conta muito bem é de quão pouca informação precisamos para aprender. Nós extrapolamos muito com bem pouco. O Google Translate precisou de milhares de livros e documentos, anos e treino de pessoas para chegar em um modelo de tradução parecido com o que uma pessoa pode aprender por conta própria e muito menos leitura. Dehaene vai fazendo esse tipo de comparação, decomposição e explicação o longo do livro todo mostrando como derivamos informação, a importância de outras pessoas para podermos aprender e como funcionam modelos de aprendizagem com recompensa (como nossa curiosidade satisfeita). Tudo isso dando extrapolações de como o ensino pode aproveitar essas habilidades....more
Cailin O’Connor e James Weatheralln estudam cascatas de informação: como a informação se propaga em grupos. E quais dinâmicas de grupos levam à circulCailin O’Connor e James Weatheralln estudam cascatas de informação: como a informação se propaga em grupos. E quais dinâmicas de grupos levam à circulação de qual tipo de informação. Neste livro, eles discutem como desinformação surge e porque é praticamente impossível de ser eliminada. Eles mostram como qualquer grupo heterogêneo, como um grupo de especialistas (médicos, cientistas, etc.) com pessoas mais ou menos avessas à novas ideias ou mais ou menos influentes podem criar a polarização de pensamento e gerar campos ideológicos que se apegam à ideias erradas de maneira inevitável. Quem duvida de uma ideia também frequentemente duvida de quem propõe e testa essa ideia, de maneira que se cria um impasse sem solução.
Eles demonstram por dinâmicas de grupos e usando exemplos reais como aquecimento global e desinformação sobre meio ambiente como esse processo acontece. E uma conclusão bem complicada, para a qual não dão uma saída fácil ou simples, é a de que se ideias perigosas não forem suprimidas, vão surgir, circular e poluir:
"Uma lição geral deste livro é que devemos parar de pensar que o “mercado de idéias” pode separar o fato da ficção de maneira efetiva. Em 1919, o juiz Oliver Wendell Holmes discordou da decisão da Suprema Corte em Abrams v. Estados Unidos de defender a Lei de Sedição de 1918. Os réus distribuíram folhetos denunciando as tentativas dos EUA de interferir na Revolução Russa. Enquanto o tribunal mantinha suas sentenças, Holmes respondeu que “o bem final desejado é melhor alcançado pelo livre comércio de idéias. . . . O melhor teste da verdade é o poder do pensamento para ser aceito na competição do mercado. ” O admirável objetivo de Holmes era proteger a liberdade de expressão, mas a metáfora do mercado de ideias, como um análogo ao livre mercado na economia, foi amplamente adotada.
Por meio da discussão, pode-se imaginar, o trigo será separado do joio, e o público acabará adotando as melhores idéias e crenças e descartando o resto. Infelizmente, este mercado é uma ficção e perigoso. Não queremos limitar a liberdade de expressão, mas queremos defender veementemente que aqueles em posições de poder ou influência vejam seu discurso pelo que ele é - um exercício de poder, capaz de causar danos reais. É irresponsável defender pontos de vista sem suporte, e fazer isso precisa ser considerado um erro moral, não apenas um acréscimo inofensivo a algum tipo de "mercado" ideal. Isso é verdade tanto para os cientistas quanto para os líderes políticos e sociais. Vale lembrar dos modelos de propaganda apresentados no Capítulo 3. Eles mostraram que os estudos que sustentam erroneamente as falsas crenças são ferramentas essenciais para os propagandistas. Isso não é culpa dos cientistas, mas com base no pressuposto (certo) de que os interesses da indústria vieram para ficar, ainda cabe aos cientistas tomar todas as medidas possíveis para evitar que seu trabalho seja usado para causar danos sociais."...more
Um livro que qualquer educador deveria ler. Sério. Pode acabar com 80% da licenciatura, 50% do curso de pedagogia e só dar este livro para as pessoas Um livro que qualquer educador deveria ler. Sério. Pode acabar com 80% da licenciatura, 50% do curso de pedagogia e só dar este livro para as pessoas lerem.
Hattie fez uma meta-análise de meta-análises de evidências sobre ensino. Uma meta-análise é um sumário de análises de uma área. Por exemplo, uma comparação de estudos que avaliam a eficácia de se adotar uniformes em uma escola. Hattie comparou, resumiu e nivelou os achados de 800 meta-análises sobre educação. São mais de 50 mil artigos e milhões de estudantes embaixo disso comparando desempenho antes e depois da aplicação de alguma mudança. Uma cacetada de métodos e intervenções em estudantes, professores, escola, métodos de ensino e o que mais pensar.
Para completar, ele apresenta um índice muito intuitivo para comparar os resultados. Um efeito d que dá as chances de um estudante do grupo sob intervenção ter um desempenho escolar melhor do que quem não participou. Ele dá os pontos positivos e negativos de usar esse tipo de índice, o que fica de fora e afins. Mas algum tipo de métrica tem que ser adotada. E o que acho que mais contribuiu para as comparações é que o baseline que assume para ver a eficácia dos métodos não é 0. Segundo ele, um d=0,2 é equivalente ao que alunos desenvolveriam naturalmente ao longo de um ano, simplesmente por amadurecerem. Ou seja, a não ser que uma mudança atrase o desenvolvimento dos alunos, ela vai dar algum resultado positivo. Um d=0,3 ou um pouco mais é esperado simplesmente porque alunos estão participando de um estudo e mais bem acompanhados. Então intervenções compensam (em especial as mais caras ou trabalhosas) principalmente quando têm um efeito acima de 0,4.
E este é o maior ponto. Muito do que pensamos, de modas e de ideologias sobre o ensino não têm esse efeito nem de perto. Construtivismo, uniformes, aprendizado baseado em problemas e mais um monte de ideias já foram testadas em milhares de estudantes e não chegam nesse valor. Podem até compensar serem adotadas, mas não são necessariamente o mais prioritário. Nem mesmo diminuir o número de alunos por professor – dentro de números como reduzir de 30 para 15. Enquanto repetir de ano é uma das intervenções que fazem mais mal para os alunos (um dos poucos efeitos negativos). E eu mesmo aceitava como importante ou positivo antes de ler.
Na verdade, quase tudo o que Hattie levantou com um efeito mais alto são atitudes dos professores e dos alunos. Mudanças de comportamento, motivação, planejamento, metas, cobranças claras e outros do tipo. Uma série de medidas relativamente baratas de adotar (em termos de infra-estrutura), mas bastante trabalhosas por demandarem muito de professores e da escola. Mudou muito como vejo o papel do professor. Vai ser um livro para o qual com certeza vou voltar muitas vezes....more
Achei que fosse um livro sobre alunos, na verdade é um livro para professores. Uma ótima leitura de qualquer forma. O livro todo é muito mais prático,Achei que fosse um livro sobre alunos, na verdade é um livro para professores. Uma ótima leitura de qualquer forma. O livro todo é muito mais prático, útil e cientificamente embasado do que a licenciatura (pelo menos da minha época).
Daniel T. Willingham compila a pesquisa em cognição para uso em sala de aula. Como separar conteúdo, como direcionar a linguagem, o que cobrar, como cobrar, etc. A pesquisa fica bem de fundo, embasando as dicas, de maneira que é um livro bem mais voltado para professores do que sobre cognição em si.
Serviu como um ótimo contra-ponto para a educação por competências que tinha lido até agora. Boa parte dos livros sobre futuro, como o The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies, discutem muito mais como precisamos aprender a acessar informação e não decorar conteúdo sem sentido. Mas Willingham dá um bom argumento sobre como precisamos de um mínimo de conceitos, mesmo que decorados, sobre os quais ancoramos princípios.
Ele ainda discute muito bem porque erramos quando tentamos fazer os alunos pensarem como especialistas (cientistas, historiadores, etc.) sem pensar no passo-a-passo, quando esse tipo de competência leva até uma década para ser desenvolvida. Recomendo a qualquer um que dê ou queira dar aulas. As dicas finais de como melhorar a própria aula são melhores do que qualquer material que vi na licenciatura....more
Um livro atual e muito bem pensado para falar sobre o futuro da educação. O Kevin Carey dá uma perspectiva histórica sobre várias tecnologias que iriaUm livro atual e muito bem pensado para falar sobre o futuro da educação. O Kevin Carey dá uma perspectiva histórica sobre várias tecnologias que iriam revolucionar a educação (rádio, TV, correio) e acabaram não fazendo isso. Para em seguida comentar sobre como a internet é diferente e o que está mudando com o Coursera, edX e iniciativas do tipo.
O melhor é que não fica só na parte histórica/disruptiva do que estão desenvolvendo, mas fala também sobre como entendemos que o ensino funciona e o que precisa ser abordado para termos de fato algo novo. Recomendo a qualquer professor que quiser se preparar para o que vem pela frente....more
Um bom livro para um americano que queira escolher onde (e se) fazer a graduação. Com uma explicação de como o ensino superior americano ficou tão carUm bom livro para um americano que queira escolher onde (e se) fazer a graduação. Com uma explicação de como o ensino superior americano ficou tão caro, problemas e soluções ao redor. Como escolher um curso, o que levar em conta e como se planejar para gastar ou não com a graduação. Com só uma ponta de ensino digital, que era o que mais procurava neste livro. A parte que realmente queria ficou por conta do The End of College: Creating the Future of Learning and the University of Everywhere....more
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