Flores Quotes

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Flores Flores by Afonso Cruz
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“Porque viver não tem nada a ver com isso que as pessoas fazem todos os dias, viver é precisamente o oposto, é aquilo que não fazemos todos os dias.”
Afonso Cruz, Flores
“A solidão deve ser a única emoção que não conseguimos partilhar, se o fizermos ela desaparece.”
Afonso Cruz, Flores
“«Creio que o guarda-chuva é uma excelente invenção. Repare: não é um objecto que evita a chuva individualmente. Não gosto dela, mas não acabo com ela, não a destruo. O guarda-chuva é uma filosofia que usamos no quotidiano. A água continua a cair nos campos, apenas evito que me estrague o penteado. É um objecto bondoso, que não magoa ninguém.»
Não há muita coisa assim.”
Afonso Cruz, Flores
“As mães são as fiéis depositárias da nossa infância, dos primeiros anos. As tuas memórias mais importantes, mais formadoras, não são tuas, são dela. E quando a tua mãe morrer, levará consigo a tua infância, perderás os primeiros anos da tua vida. Por isso, trata-a bem.”
Afonso Cruz, Flores
“cada homem é um universo, se não fosse não caberia tanto sofrimento dentro da cabeça de cada um.”
Afonso Cruz, Flores
“Morremos todos agarrados ao coração. Já vi muita gente morrer e sei o que digo. Morremos dezenas de vezes no momento fatídico, morremos por não termos dado um beijo a um filho, por não termos perdoado um irmão. Uma pessoa cai ao chão fulminada por um raio e morre estas mortes todas, morre por não ter dado a mão a um amigo, morre por ter espancado uma mulher, por ter insultado a mãe. Morremos todos assim, várias mortes enfiadas numa só morte, agarrados ao coração.”
Afonso Cruz, Flores
“Cheira tudo a flores, o fim das coisas cheira a flores, não é a esgoto e a podre.”
Afonso Cruz, Flores
“Nos últimos tempos, quando sinto os lábios da Clarisse a tocarem os meus, comprovo que não têm história, já não convocam o primeiro beijo que demos. Creio que, numa relação, o beijo terá sempre de manter a densidade do primeiro, a história de uma vida, todos os pores-do-sol, todas as palavras murmuradas no escuro, toda a certeza do amor. Mas já não é assim. Agora sabem às vacinas que tínhamos de dar à cadela (já morreu), às conversas como diretor da escola, á loiça por lavar, à lâmpada que falta mudar, às infiltrações no tecto, às reuniões de condóminos. Toco levemente os lábios dela e sabe-me à rotina, às finanças, ao barulho da máquina de lavar roupa. Beijamo-nos como quem faz a cama.”
Afonso Cruz, Flores
tags: rotina
“— Ruga atrás de ruga, uma guerra leva muitos anos a construir, não é só bombardear coisas e vê-las ruir. É preciso alimentar o ódio, cultivá-lo, isso tudo. É como com as plantas, regá-las, amá-las, falar com elas. Esperar que cresçam, que dêem fruto, que sejam belas. A guerra é igual, é um vaso com uma flor. A beleza de tudo está no ódio a florir.”
Afonso Cruz, Flores
tags: guerra
“E disse ainda que, na escola, quando lhe perguntavam onde tinha nascido, respondia apontando para o horizonte.”
Afonso Cruz, Flores
“O mundo, quer-me parecer, é muito mais que um sorriso ou uma flor a abanar ao vento do que um terramoto, um monumento de pedra ou um Grand Canyon.”
Afonso Cruz, Flores
“- A voz é uma destino, um lugar onde pousar a cabeça, é o nosso verdadeiro corpo. Quando cantamos, desaparecemos, passamos a ser a ária, o nosso esqueleto é o ritmo, o pâncreas é um ré diminuto, os braços são melodia, os pulmões harmonia, a bexiga compassos, passamos a ser voz, encontramos a nossa verdadeira natureza, o canto. É isso que somos na coisa mais essencial, uma canção. Acha que é difícil encontrar o bloco construtor da matéria? Descobrir um quark não é nada comparado com a dificuldade imensa de descobrir a partícula essencial de uma canção.”
Afonso Cruz, Flores
“Eu acreditava que as frases eram armas capazes de mudar, de lutar, de resistir. Armas capazes de disparar um futuro.”
Afonso Cruz, Flores
“Um rio, Kevin, está ao mesmo tempo na nascente e na foz. A vida também é assim, mas nós imaginamos que é um barco a descer o rio, um humilde pescador que por vezes tenta remar contra a corrente, mas é impossível vencê-la. Porém, nós somos o rio, que imagem tão gasta Kevin, mas deve ser isso que somos. Ao mesmo tempo na nascente e na foz, moribundos e nascituros ao mesmo tempo, no útero e enterrados ao mesmo tempo, e no entanto sempre diferentes de nós mesmos, porque a água é sempre outra, a nascente está sempre a mudar, a foz está sempre a mudar, o nosso passado também, o nosso destino também, somos esta imagem tão gasta pelos poetas, pelos cantores, é isso mesmo, Kevin, uma alegoria velha, somos o tal rio, o tal lugar-comum.”
Afonso Cruz, Flores